Quem disse que só crianças podem brincar? Mais do que isso, quem disse que brincadeiras não podem ser levadas a sério, que “é só uma brincadeirinha”? Invertendo essa lógica com criatividade, profissionalismo, ousadia, muito planejamento e senso de oportunidade, alguns empreendedores no Brasil e no mundo estão realizando o sonho de montar seu próprio negócio, explorando o potencial mercadológico do “lúdico” – nicho de mercado até há pouco tempo pouco atendido. Afinal, será que trabalho, lucro e diversão podem andar juntos?
Foi em busca dessa resposta que, em São Paulo, dois amigos se juntaram e transformaram duas diversões, bar e jogos de tabuleiro, em um projeto inovador e audacioso: a Ludus Luderia. A ideia de abrir uma luderia nasceu em 2003, mas apenas em 14 de julho de 2007 o empreendimento foi inaugurado. Hoje, é reconhecido como a primeira luderia do Brasil.
A palavra “ludus” vem do latim e significa “jogar e brincar”. “Luderia” foi o termo criado para classificar esse novo tipo de empreendimento, que mistura produtos e serviços tradicionais de bares com o ambiente lúdico de jogos tradicionais do mundo inteiro.
A proposta da Ludus é resgatar uma forma de diversão antiga mas ainda em uso. Através de um cardápio de jogos e com o auxílio de monitores especializados no tema, os clientes podem escolher jogos para todas as situações e idades.
Quando residia em São Paulo, fui algumas vezes à laudeiria em diferentes situações, e a Ludus tinha o que me oferecer em todas elas. Conheci o estabelecimento num domingo quando procurava um lugar bacana para almoçar com os amigos depois de um espetáculo teatral. Um deles já tinha ido à Ludus e fez a proposta. Eu já tinha ouvido falar do local e gostei da ideia, mas quando ele falou fiquei entusiasmado para conhecer essa novidade. Chegando lá, fui surpreendido: boa comida, boa bebida, pessoas simpáticas, ambiente animado e diversão à vontade para pessoas de qualquer idade que forem sozinhas ou acompanhadas. A diversão é garantida para crianças, adolescentes, adultos, idosos ou família completa.
Contadores de histórias
Também com intenção de trabalhar o potencial mercadológico do lúdico, um grupo de jovens criou, em 1998, Os Tapetes Contadores de Histórias, grupo carioca de atores e contadores de histórias. Baseados na simples prática de contar e escutar histórias, eles formaram um negócio de realização de espetáculos, sessões de histórias para crianças, adultos e empresas, oficinas para quem quer aprender a contar histórias, exposições interativas e projetos culturais envolvendo oralidade, artes visuais e teatro. Para produzir os cenários, utilizam de diversos objetos, como tapetes, painéis, malas, aventais, roupas, caixas, pedaços de pano, etc. Atualmente, possuem um acervo de 54 objetos para um vasto repertório de contos.
Passarinho à Toa from Arpoador Comunica Filmes on Vimeo.
Mais tradicionais, mas não menos lúdicas, as brinquedotecas também surgem como um nicho ainda pouco explorado, principalmente quando identificam oportunidades de mercado específicas e públicos ainda pouco atendidos, como os adultos e os idosos. As brinquedotecas são, geralmente, espaços com coleções de jogos e/ou brinquedos organizadas para o uso dos visitantes.
A primeira surgiu em 1934 em Los Angeles, a fim de solucionar um problema de roubo de produtos de lojas de brinquedo da região. Foi criado então um serviço de empréstimo de brinquedos, chamado de Los Angeles Toy Loan. De lá para cá, a ideia se expandiu no mundo inteiro e foi inspiração para diversos outros formatos de brinquedotecas, como por exemplo, as “luderias”.
Espaço de jogos para adultos
Outra derivação do segmento são os espaços de jogos para festas, originalmente pensados para crianças. Atualmente, já há espaços de festas com atividades lúdicas para adultos, muitos integrando gastronomia e música aos jogos. Algumas das atrações desses empreendimentos são: mesas de “pingue-pongue”, “pimbolim”, sinuca, fliperamas diversos, “videokês” e em alguns estabelecimentos há até apresentações de bandas ao vivo.
O bar e restaurante Poizé em Brasília é um exemplo de estabelecimento que consegue explorar bem esse conceito. Uma mistura de boteco, bar, restaurante, choperia, clube de sinuca e casa de shows em um único espaço. Além disso, ainda reforça características da população brasiliense, aspecto lembrado pelo próprio nome.
Esses são apenas alguns dos exemplos possíveis de como trabalhar a brincadeira como elemento propulsor de novos negócios – sejam eles totalmente voltados para o conceito “lúdico”, sejam aqueles que tratam a diversão como uma das vertentes de negócios já existentes – , conquistando um público ainda pouco explorado. Para isso, é preciso criatividade e empenho. É necessário acreditar, pensar fora da caixa, exercitar possibilidades, encontrar seu espaço e sua brincadeira favorita.
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Edição: Fernanda Peregrino, da F&C Comunicação e Projetos