Você passa horas tecendo uma peça impecável, escolhe os melhores fios, a combinação de cores é perfeita e o acabamento é de encher os olhos. Então, chega a hora de colocar o preço e… você trava. Soa familiar? A verdade é que, para a maioria dos artesãos, precificar o próprio trabalho é um dos maiores desafios do negócio. Por medo de “cobrar caro” ou por não saber exatamente o que calcular, muitos acabam, sem perceber, diminuindo seu lucro ou, pior, pagando para trabalhar.
Mas seu talento com as agulhas é valioso e seu negócio merece prosperar. Um preço justo não só paga as contas, como também comunica o valor e a qualidade do seu trabalho.
Vamos desvendar juntas os 3 erros mais comuns na precificação do artesanato em crochê? Pegue seu caderno de anotações e vamos garantir que seu talento seja devidamente recompensado.
Erro 1: “Meu único custo é o novelo de lã”
Este é, de longe, o erro mais perigoso. Ao pensar no preço, muitos artesãos calculam apenas o custo óbvio: o valor do novelo de fio ou da linha. Mas e todo o resto? Um negócio de artesanato, mesmo que funcione na mesa da sua sala, tem uma série de custos “invisíveis” que, somados, fazem uma enorme diferença no seu lucro final.
Achar que o custo é apenas o material principal é como montar um bolo e cobrar apenas pela farinha, esquecendo os ovos, o fermento, o gás do forno e a energia da batedeira.
A realidade dos seus custos:
-
Materiais Secundários: Agulhas (que quebram ou se desgastam), tesoura, marcadores de ponto, cola, enchimento para amigurumis, olhos de segurança, botões, zíperes e outros aviamentos.
-
Embalagem e Apresentação: Caixas para envio, sacolas, papel de seda, fitas, seus cartões de visita, etiquetas com a sua marca e os cartões de agradecimento que dão um toque especial.
-
Custos Operacionais (os mais esquecidos!):
-
Energia elétrica: A luz do seu ateliê para trabalhar à noite, o computador que você usa para divulgar.
-
Internet: Essencial para pesquisar referências, postar nas redes sociais e se comunicar com clientes.
-
Taxas: O percentual da maquininha de cartão, as taxas de venda de plataformas como a Elo7.
-
Formalização: O valor mensal do seu DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional), caso você seja MEI.
-
Desafio prático: Que tal fazer um levantamento agora? Crie uma planilha ou pegue uma folha de papel e liste absolutamente TUDO que você usou para fazer e entregar sua última peça, além do fio. Você vai se surpreender com o valor que precisa ser considerado no seu preço final.
Erro 2: “Vou cobrar baratinho para vender logo”
Depois de listar os custos materiais, chegamos ao seu bem mais precioso: seu tempo. Muitos artesãos, por insegurança ou pelo famoso “dedinho” do cliente que pede desconto, colocam um valor simbólico pela sua mão de obra. Isso é um erro fatal para a saúde do seu negócio.
É preciso mudar a mentalidade: você não está fazendo um “bico”, você está construindo um negócio. E todo negócio precisa pagar o salário de seu funcionário principal: você!
Sua hora de trabalho não representa apenas o tempo gasto movendo a agulha. Ela engloba:
-
Anos de prática e aprendizado;
-
Cursos e workshops que você fez para se aperfeiçoar;
-
O tempo gasto na criação do design da peça;
-
Seu talento e criatividade únicos.
Como calcular o valor da sua hora de forma simples:
-
Defina seu salário desejado: Quanto você gostaria de receber pelo seu trabalho por mês? Seja realista, mas não se subestime. Vamos supor que seu objetivo seja R$ 2.200 (um salário mínimo em valores hipotéticos).
-
Estime suas horas de trabalho: Quantas horas por dia ou por mês você se dedica ao seu negócio de crochê? Vamos supor 8 horas por dia, 5 dias por semana, totalizando cerca de 160 horas por mês.
-
Calcule o valor da sua hora: Divida o salário desejado pelas horas de trabalho.
-
Exemplo: R$ 2.200 / 160 horas = R$ 13,75 por hora.
-
Se uma peça leva 5 horas para ser feita, você deve adicionar R$ 68,75 (5 x R$ 13,75) ao cálculo do preço, além dos custos de material. Este valor não é “lucro”, é o seu pagamento justo.
Erro 3: “Minha vizinha vende por X, então vou vender também”
Olhar a concorrência é importante, mas usar o preço de outra pessoa como sua única base é um tiro no pé. Você não sabe como sua vizinha ou aquela outra artesã do Instagram calculou o preço dela. Talvez ela esteja cometendo os erros 1 e 2!
Sua estratégia de preço deve ser baseada no seu negócio e no seu posicionamento de mercado.
-
Compare o incomparável: A qualidade do seu acabamento é a mesma? O material que você usa tem a mesma qualidade? A apresentação e a embalagem do seu produto são equivalentes? Tudo isso justifica preços diferentes.
-
Defina seu público-alvo: Você quer vender para o cliente que busca o menor preço a qualquer custo, ou para o cliente que valoriza um trabalho manual exclusivo, bem-feito e com uma história por trás? O segundo cliente está disposto a pagar mais por esse valor agregado.
-
Comunique seu valor: O preço é justificado pela percepção de valor. Uma fotografia profissional, uma embalagem cuidadosa, um atendimento atencioso e uma marca forte permitem que você pratique preços mais altos, pois o cliente não está comprando apenas um produto, mas uma experiência completa.
Pergunta para reflexão: Seu negócio se posiciona como “o mais barato da região” ou como “o ateliê de peças de crochê com o melhor acabamento e design exclusivo”? A resposta a essa pergunta é o norte da sua estratégia de preço.
Agora é com você!
Precificar de forma justa não é sobre ser “careiro”, é sobre ser sustentável. É o que garante que você possa continuar comprando materiais de qualidade, investindo em novos conhecimentos e, o mais importante, vivendo do talento incrível que você possui.
Abra sua planilha, pegue a calculadora e encare seus números sem medo. Corrigir esses três erros não é apenas um ajuste matemático, é o passo mais importante para transformar seu hobby apaixonante em um negócio de crochê verdadeiramente lucrativo e de sucesso.
