Esse artigo faz parte de uma série de análises sobre painéis temáticos na Campus Party 2015. O painél analisado nesse conteúdo é “Importância do CTO e da equipe técnica ao levantar Capital de Risco”
Participante(s):
Otavio Ferreira – Mais de 13 anos de experiência na indústria de Internet. É mestre em Engenharia de Software e Web Semântica (USP) e bacharel em Ciência da Computação (PUC-SP). Desde 2007, Otavio Ferreira tem conduzido processos de avaliação tecnológica, o que resultou em mais de USD 400 milhões investidos em empresas de crescimento acelerado. Sua atuação em economias emergentes, principalmente na América Latina, inclui países como Argentina, Brasil, Colombia, México e Uruguai.
Fez parte da equipe de fundação da Naspers, no Brasil, onde liderou a avaliação técnica na aquisição de empresas como Buscapé e Movile. Também fundou a Rosewood Due Diligence, que tem apoiado fundos de capital de risco em seus investimentos na região. Desde 2012, tem atuado como diretor de tecnologia em startups nacionais. Atualmente, é CTO da Emprego Ligado, onde procura resolver o problema da empregabilidade e da mobilidade urbana, para a população de baixa renda. Anteriormente, foi CTO da Baby.com.br e Dinda.com.br, ambas operações de comércio eletrônico.
Otavio Ferreira, começa sua palestra comentando que depois de passar uns anos do lado da mesa do investidor trabalhando com a Naspers ele aprendeu que o lado do empreendedor é bem mais divertido do que a do investidor. Segundo ele é mais legal construir o sonho do que apenas colocar dinheiro no sonho dos outros
Ele conta que neste processo aprendeu que os investidores querem ouvir apenas 5 coisas para fazer um aporte na empresa:
Time com histórico de entrega
Tamanho do mercado e aderência
Alta recorrência na monetização
Baixo custo de aquisição
Opções de saída
Para dar um panorama sobre o investimentos o Otávio explica que os fundos se dividem em diferentes estágios:
- Seed
- Anjo
- Risco,
- Privado
- Estratégico.
Naturalmente, a cada passo que a empresa dá na sequência, maior o capital aportado. E, a cada novo passo, mais aderência ao seu negócio tem os novos investidores.
Sobre as 5 coisas que os investidores querem ouvir:
Track Record
Otávio mostrou ‘quotes’ de investidores e empreendedores notórios sobre o papel do CTO. Por cima diziam que o papel do CEO é atrair e reter talentos. Se o CEO não consegue um CTO estrela, a reputação dele e o investimento estão em risco. Ter um bom CTO é imprescindível no inicio para permitir pivots! No momento de crescimento é super importante ter alguém que saiba como escalar. A capacidade de construção de equipe técnica é fundamental. As vezes mais até do que a capacidade de programar.
1 – Qual o papel do CTO neste ponto:
No começo de uma startup a escalabilidade não é um ponto chave, mas vale lembrar que o capital de risco conta com a escalabilidade em algum ponto do processo. E sem uma boa equipe técnica isso não acontece.
Dica de como o CTO pode inspirar os desenvolvedores:
– Open labs: foco em qualquer outra coisa que não o produto
– Tech talks: conversas sobre assuntos chaves – 1h por semana, por exemplo.
– Restrospective: Todos juntos avaliando o processo.
– BackLog Grooming: conversa entre diferentes times / departamentos sobre o backLog
– Team Building: Deixe a equipe mas forte com atividades para elas.
E comprove tudo com dados. Se você não tem ainda histórico de entregas, aqui vão umas dicas:
– Throughputting – Quantidade de histórias entregues por semana, por exemplo
– Leadtime – É o perído entre o início do processo e a entrega
– Forecasting – É a capacidade de colocar uma previsão ao longo de um tempo
Uma pergunta clássica que o CTO tem que ouvir é: “e aí, quando é que o MVP fica pronto?”
Otavio responde de uma forma super legal. Segundo ele, para quem conhece a natureza da engenharia de software. essa é uma pergunta inválida. A resposta sempre vai estar incorreta.Porque a matéria prima do desenvolvimento de software é abstrata, é o próprio intelecto. Logo, não dá para estimar o tempo de maturação do intelecto. Mas, o que se pode fazer é, com base em histórico de entregas e prazos, fazer um forecasting com 3 previsões, otimista (linha amarela), normal (linha verde) e pessimista(linha vermelha).
2 – Mercado crescente
Mostrar para os investidores que você está em um mercado que é grande o suficiente para agora e ainda vai crescer muito. Um filtro importante de se fazer é saber a diferença entre o mercado total e o que é acessível para a sua startup.
– Mercado total : Agregado das vendas de todos os players;
– Mercado endereçável : Divide o mercado total por região, perfil demográfico, acessibilidade;
– Mercado acessível : Agora você mostra o mercado que a startup vai conquistar considerando competidores e a sua capacidade de conquistar market share;
Qual o papel do CTO neste ponto:
O CTO consegue checar a aderência do seu produto com este mercado. Numa fase inicial a capacidade de iterar hipóteses é super importante.
3 – Alta recorrência na monetização
Essa é a hora que o Otavio fala em Life Time Value (LTV) ou tempo de vida do usuário. Ou seja, quanto tempo ele fica e quanto gasta com você.
Existem várias fórmulas, das mais complexas as mais simples. Uma de médica complexidade é a:
(Tempo de vida média) x (Gasto médio) x (margem média do produto/serviço) = LTV
Ou seja, digamos que um usuário fica em médica 12 meses com a startup, pagando R$ 100,00 por mês e a margem da startup é de 20%, ou seja, (12 meses) x (R$ 100 reais) x (20%)= R$ 240,00.
O ideal é que o LTV seja calculado por diversos canais de marketing.
Qual o papel do CTO neste ponto:
– Executar teste a/b
– implementar novas funcionalidades
– Integrar com canais de retenção (retargeting, e-mail mkt, etc)
– Aplicar técnicas de bi para fazer o tracking
4 – Baixo custo de aquisição
O custo de aquisição é o valor que a startup investe para trazer um novo usuário. Claramente ele não pode ser maior que o seu LTV e também deve ser medido por canal.
O Otavio mostra um gráfico super legal que a empresa começa no negativo em cada novo cliente e a sua margem só começa a aparecer depois de passar do Break even.
Qual o papel do CTO neste ponto:
– Otimizar para SEO, pois o custo de aquisição é baixo de pessoas que chegam por buscas orgânicas
– Colocar novas páginas de cadastros (landing pages)
– Integrar plataformas com canais de aquisiç±ao (afiliados, comparadores, market place etc)
– Muito BI para medir tudo isso.
5 – opção de saída
Otavio lembra que o investidor não é apaixondo pelo seu negócio e sim pelos números que o seu negócio pode gerar. Ele quer entrar no seu negócio e sair rapidamente, vendendo a sua participação com lucro.
Ele aponta bem que tem gente que não percebe, mas os fundos de investimentos também são como startups. Eles recebem aportes do LPs (Lead Partners) para que os GP (general partners) transformem esse montante investido em uma soma maior. E depois de 5 anos sem lucro, se esse aporte não aumenta, a startup vai fechar como qualquer outra. Ou seja, o resultado de um investidor é a sua saída.
Quais as formas de saída?
IPO, ou seja, abertura de capital na bolsa. Não é comum aqui no Brasil.
Fusão e aquisição : todo mundo vende a sua parte. Essa sim é a forma mais comum aqui do Brasil.
Qual o papel do CTO neste ponto:
Nesta fase, a tech duediligience é super importante. Nenhum investidor vai aportar centenas de milhões sem garantir que a startuo pode escalar.
Conheça as análises dos principais painéis da Campus Party 08 (2015):
1 – Deu ruim! O que fazer quando as coisas não dão certo?
2 – Eles chegaram lá. Você também pode!
3- Como organizar e definir ritmo em sua startup/empresa “Google Style”
4- Exercitando sua imaginação e explorando seu valor econômico
5- Quem paga pelo conteúdo das redes sociais – Indiretas do bem
6- Lições de empreendedorismo que aprendi NASA
7- Novos negócios: música online
8- Do Brasil para o Mundo : o case do Blogo
9- E-commerce integrado em redes sociais
10 – Produto, sociedade e pessoas
11 – Startups e investidores: falando a mesma língua
12 – Visão de Internet para Ime Archibong (Facebook)
13 – Importância do CTO e da equipe técnica ao levantar Capital de Risco