O público de moda sustentável é crítico, consciente de seus hábitos de consumo e, por isso, valoriza muito além da modelagem e a beleza de um produto. Para ele, o mais importante é o respeito à ética e sua relação com a natureza e com as pessoas. Esse público é conhecido como ecofriendly, e incentiva mudanças no estilo de vida para proteger o meio ambiente e a sociedade. Ele é consumidor de produtos “verdes” e movimenta o mercado disseminando novos ideais entre pessoas que desconhecem essa prática.
Segundo os Institutos Akatu e Ethos, o percentual da população brasileira que adere a valores e comportamentos mais sustentáveis de consumo é de 5%, quase 10 milhões de pessoas. A moda sustentável é voltada para estes consumidores, e está vinculada aos seguintes princípios essenciais:
– Utilização de matéria-prima reciclada e/ou natural e renovável, sem agrotóxicos e produtos químicos;
– Processo de produção com menor impacto ambiental possível;
– Redução das sobras de tecidos das confecções e reutilização dos resíduos em outros produtos ou encaminhamento para reciclagem.
– Pagamento de salários justos aos trabalhadores envolvidos nos processos de fabricação e vendas; e
– Sistema de produção socialmente responsável, com parcerias com comunidades locais de baixa renda, cooperativas e não utilização do trabalho infantil.
Conheça abaixo as principais características, estratégias de diferenciação, cenários e perspectivas para o nicho de mercado ‘moda sustentável’. As informações são da publicação Nichos de Moda, lançada pelo Sebrae mês passado.
Cenários
Para atender a este público, os varejistas de moda devem ofertar peças de roupa, calçados ou acessórios que contemplem, em alguma medida, os princípios de moda sustentável. Isso significa que os artigos vendidos no seu estabelecimento devem ser feitos de matéria-prima renovável e fabricados por um processo menos poluente e por uma empresa que paga um valor justo aos trabalhadores envolvidos na produção.
Segundo matéria publicada em 2012 no blog “Mercado Ético”, a moda ecológica é responsável por movimentar entre R$ 270 e R$ 362 milhões por ano.
No cenário mundial, grandes marcas já estão investindo nesta direção. Como é o caso das lojas de departamento inglesas H&M e TopShop, que lançaram coleções inteiras feitas a partir de algodão orgânico ou de tecido reciclado. Também a existência de eventos paralelos às semanas de moda, como o Estethica, salão de moda ética de Londres, onde os novos conceitos são elaborados e trocados entre diferentes produtores.
Já no Brasil este mercado ainda é pouco explorado, a não ser por algumas ações pontuais. Parte vem de estilistas reconhecidos e que tem uma atitude arrojada, parte vem de novos nomes ou de pequenas empresas que enxergaram neste nicho uma oportunidade. O evento SP Ecoera, idealizado pela consultora de moda Chiara Gadaleta, também é uma iniciativa nesta direção.
Mesmo no mercado em crescimento, ainda existem desafios a serem enfrentados por quem quer produzir ou revender estes produtos. Para a fundadora do Instituto Ecotece, Ana Cândida Zanesco, o problema para quem fabrica é se adequar a uma nova lógica de produção, diferente da que já está operando há décadas. “Pesquisa, consultoria e adequação nas produções requerem investimento e isso pode, inicialmente, impactar o financeiro da empresa”, afirma.
Por outro lado, o lojista que tem interesse em vender o produto, enfrenta a dificuldade da indisponibilidade de produto, ou seja, ainda são poucos os fornecedores que produzem nesta linha.
Outro desafio deste mercado é o fato de que as roupas politicamente corretas custam por volta de 30% a mais que as tradicionais, uma vez que uma blusa de tecido orgânico, por exemplo, chega a valer o triplo de uma blusa de algodão, poliéster ou nylon. Ao mesmo tempo, a demanda ainda é pequena e as produções são feitas em menor escala, o que aumenta o custo das peças.
Segundo Bruno Abrantes, da loja ECO 3R, há consumidores que reclamam dos preços por desconhecimento. “Algumas pessoas costumam dizer que já que os materiais, teoricamente, vieram do lixo, deveriam ser de graça. Mas essa é uma ideia errada”, afirma o empresário.
Mercado
A ONNG é uma loja multimarca de produtos sustentáveis de moda em Cuiabá. Está há nove anos no mercado e conta com duas lojas nos shopping centers Três Américas e Pantanal. Entre as peças que compõem o seu mix, roupas e calçados feitos com algodão orgânico, tecidos de materiais, reciclados como garrafas pet e bambu, calçados de matérias-primas biodegradáveis ou que agridem menos o meio ambiente e uma linha de acessórios feita a partir de sementes, palha, fibras e outros materiais naturais.
As camisetas em tecidos reciclados de pet são o carro-chefe da loja, que também produz com marca própria. “Somos uma empresa que tem a mesma filosofia das organizações não governamentais ambientalistas. Também estamos comprometidos com a sustentabilidade do planeta e só comercializamos produtos feitos dentro desse princípio”, afirma Maria Cecília Alves, diretora da empresa e idealizadora do negócio.
Ambientalistas foram os primeiros clientes e divulgadores da marca, mas atualmente a clientela é bastante variada. “São idealistas de todas as faixas etárias, desde crianças, adolescentes, jovens e até adultos”, afirma.
A estilista Flávia Aranha é dona da marca que leva o seu nome e é conhecida por criar e vender peças ecologicamente corretas, com qualidade acima da média. Atualmente possui uma loja na Vila Madalena, em São Paulo, onde oferece peças com modelagens atemporais e minimalistas confeccionadas com tecidos de algodão puro e tingimento com corantes naturais, como folhas, cascas de árvores e chá. As diferentes matérias-primas utilizadas advêm de comunidades espalhadas pelo País. De reconhecimento internacional, hoje exporta para países da Europa e Ásia.
Entre as grandes marcas que atuam nesta direção está a Osklen, que possui um laboratório de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais sustentáveis, o e-fabrics. A empresa utiliza mais de 20 tipos de materiais de origem reciclada, orgânica, natural e artesanal em suas coleções como fibras de pet, bambu e cânhamo, entre outras. Ela também trabalha com produtos de comunidades e cooperativas, ajudando no desenvolvimento socioeconômico dos grupos envolvidos ao longo da cadeia de produção, como a juta de Castanhal, no Pará, que produz os acessórios da coleção da grife.
Algumas marcas brasileiras consolidadas começaram a investir em linhas de produtos sustentáveis. A Colcci vem atuando nesta direção oferecendo peças em Tencel, tecido ecológico feito através da polpa de árvores de reflorestamento. A Hering utiliza o algodão orgânico e garrafas pet para o tecido de camisetas, bolsas e underwear. A marca também investe em pesquisas de corantes e amaciantes ecológicos para reduzir o impacto ambiental. A Totem, loja de roupas femininas, apresentou bolsas de praia e chapéus de crochê feitos com plástico reciclado em recente desfile no Fashion Rio.
Estratégias para conquistar estes consumidores
• Busque entender o seu cliente, procurando saber o que buscam na hora da compra;
• Busque fornecedores que ofereçam produtos confeccionados com matéria-prima ecológica, tais como: borracha reciclada de pneus para a confecção de sandálias, sapatos e cintos; e tecidos feitos a partir de garrafas plásticas pet, algodão reciclável e algodão orgânico;
• Ofereça peças artesanais em seu mix de produtos, uma vez que o artesanato é bastante valorizado por este público;
• Valorize seu produto aliando artesanato a conscientização ambiental, envolvendo comunidades de baixa renda e disseminando esforços para conservação dos recursos naturais;
• Invista em produtos confeccionados com resíduos de indústria como as sobras de retalhos;
• Invista no e-commerce, uma vez que uma das grandes dificuldades deste público é encontrar produtos que atendam às suas necessidades “verdes”.
• Trabalhe uma boa comunicação destacando o que agrega valor ao produto.