No meu caminho de casa até o Sebrae Nacional, passo diariamente pelo Hipermercado Extra, localizado no fim da Asa Norte, de Brasília. Um grande anúncio indica que se pode comprar ali material escolar em 15 parcelas fixas.
Esta estratégia de venda em tempos de crise é exemplar. Primeiro mostra que o grande varejo não mede esforços para competir com a lojinha perto da nossa casa. Aquela que manda entregar em casa, que também financia no cartão ou no cheque. Segundo, em tempos de noticiário ruim todo dia invadindo nossos corações e mentes é natural que fiquemos receosos mesmo que a hipótese de desemprego esteja descartada. E, receosos, optamos por gastar menos.
Mas há gastos que são inadiáveis e material de nossos filhos não está na lista de supérfluos. Então, paramos o carro e vamos conferir as ofertas. E até chegarmos às gôndolas de cadernos, lápis, borrachas, lancheiras, pastas, canetinhas coloridas, massinhas de modelar, copos descartáveis (sim eles fazem parte da lista enviadas pelas escolas), vamos passando por dezenas de outras nos lembrando que falta isso e mais aquilo na nossa dispensa.
De repente também lembramos que a tolha de banho mostrou-se de manhã bastante usada e pouco macia. Por que não comprar um ou dois jogos, já que os preços estão razoáveis? E assim, uma paradinha de meia hora transforma-se em paradona e lá estamos na fila não dos que querem pagar até dez volumes, mas daqueles de dois ou três carrinhos cheios. Paciência!!! Posso dividir no cartão da loja. Posso pagar parte com os tíquetes refeição que recebo de complementação salarial. Posso desmarcar aquele jantar que me custaria bem caro…
Prezados leitores, não se enganem, este post não é para registrar destemperos de uma trabalhadora, arrimo de família e dona-de-casa. Estou falando de crise. Sim, esta crise que estamos vivendo e que é global. Essas estratégias de venda sempre funcionam: em tempos de vacas gordas ou magras. Ninguém é ingênuo de achar que hipermercado ganha dinheiro vendendo pão francês quentinho, mas vendem e muito. Como chamariz para vendas mais alentadas.
O resumo da ópera é o seguinte. A estratégia de venda do Extra não aposta no crescimento da inadimplência. Aposta que a economia vai se ajustar nos próximos meses e que para que isso se confirme, para que o jogo vire é preciso jogar para a galera, animar a torcida.