Enganha-se quem pensa que não existe sintonia entre sustentabilidade e mercado de luxo. Muito além da reciclagem, o reuso de peças obsoletas está emplacando um mercado altamente valoroso. Essa modalidade, bastante sustentável e lucrativa, é o Upcycling: um termo que resultado junção de “up” com reciclagem e significa dar um status novo e melhor a algo que acabaria (injustamente) condenado ao lixo.
O conceito define um processo que tem como princípio o prolongamento do ciclo de vida útil de um produto, cujo uso por algum motivo caiu em desuso. O intuito é reduzir o consumo de energia e recursos que seriam requeridos para a reciclagem.
No processo de reciclagem, a matéria-prima precisa “morrer” para renascer — como uma lata de alumínio, por exemplo, que tem de ser derretida para dar origem a uma nova. No reuso (ou reaproveitamento) o lixo não passa por nenhum processo de transformação. Ou seja, não há mudança em seu estado químico.
O upcycling é um reúso criativo que vem se propagando entre grifes que têm em mãos um material merecedor de segunda chance. A produção transforma resíduos ou produtos em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade. A técnica já é adotada por grandes estilistas que procuram utilizar todos os tecidos e aviamentos que sobraram de coleções anteriores em suas peças da última temporada, fazendo que com isso que jamais haja desperdício.
O conceito não se restringe ao mundo da moda. Na verdade, tudo que possa ser transformado por essa técnica, de objetos de decoração a móveis, resultada em peças com um alto valor comercial.
Apesar de ser recente, o upcycling tem sido difundido rapidamente, acompanhando a necessidade do desenvolvimento de projetos sustentáveis. Por isso, não é difícil encontrar soluções que contemplem o conceito. Os designers brasileiros Irmãos Campana são mundialmente conhecidos por transformarem resíduos em poltronas, cadeiras, entre outros, aproveitando a forma e estética do material utilizado.
Entre os artigos e peças de tamanhos menores, ganham destaque objetos feitos com pneus de bicicleta, como fruteiras, e cadeiras feitas com resíduos de cordas.
De acordo com a revista Veja Especial Luxo, o fato de os itens serem artesanais e produzidos em pequena escala atiça o desejo do consumidor. Mas além disso, essas peças, por terem um passado, podem vir também acompanhadas de uma história para contar e, com isso, despertar um sentimento a mais no comprador. É o que sugere o nome de batismo da cadeira Rememberme (“Lembre-se de mim”, em inglês), do alemão Tobias Juretzek, confeccionada com roupas usadas.