Os participantes do III Fórum Brasileiro de Garantias de Crédito para as MPE conferiram nesta quarta-feira os debates sobre como os mecanismos de garantia viabilizam o crédito para o segmento. O evento ocorre em Belo Horizonte até quinta-feira (9/8).
O diretor-presidente do Bancoob, Marco Aurélio Almada, deu o exemplo bem sucedido de apoio às micro e pequenas empresas pelas sociedades de garantia e explicou a diferença em relação a outros garantidores. “O Bancoob apoia as cooperativas regionais para que elas façam as operações com seus cooperados. É natural que essas cooperativas desenvolvam grande relação com as sociedades de garantia de crédito, que também são regionais, e que construam fluxos operacionais regionais. Desta maneira, podemos vislumbrar grande sinergia que contribui para o desenvolvimento local”, disse o dirigente.
O Sicoob é parceiro das SGC paranaenses Noroeste Garantia, Garantisudoeste e Garantioeste. Segundo Almada, 69% dos beneficiados são micro empresas, enquanto 29% empreendedores individuais, o que mostra a contribuição para o desenvolvimento dos negócios dentro do ambiente cooperativo. “Só em tarifas e taxas uma das cooperativas vinculadas ao banco teve uma economia de R$ 146 milhões e R$ 226 milhões, respectivamente. Hoje, o cooperativismo já não é mais só de crédito, mas atendimento financeiro pleno e amplo. É uma gama de produtos para o cliente e com facilidade de atendimento”, explicou.
O superintendente Nacional de Micro e Pequena Empresa da Caixa Econômica Federal, Dário Araújo, falou da experiência da instituição. “Ao contratar uma operação, a empresa deve ter alguns objetivos, como ampliação da produção, crescimento das vendas, expansão ou modernização, manutenção do fluxo de caixa, entre outros. O melhor crédito é aquele certo para a necessidade da empresa, com produtos escolhidos em função de suas características”, disse.
O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) apresentou uma série de facilidades para o segmento, como crédito barato e prazo de até cinco anos, mas sinalizou para outras ferramentas que garantam mais acesso dos empresários. “Mesmo com alguns benefícios não conseguimos atingir uma boa meta. Analisamos a questão e descobrimos que a falta de agilidade impacta no nosso resultado final”, disse o presidente do Banco, Matheus Carvalho.
De acordo com o representante do BDMG, essa é a oportunidade para avaliar todas as alternativas de garantia na busca de maior agilidade e acessibilidade por meio da plataforma de parceiros que a entidade busca. Durante o evento, o banco e o Sebrae assinaram um termo de cooperação técnica para tornar disponível um fundo de aval como garantia necessária para as micro e pequenas empresas.
Segmento que representa 21% do Produto Interno Bruto (PIB) e 52% dos empregos formais, os pequenos negócios brasileiros correspondem a 29% da clientela do Banco Brasil. Para o diretor de Micro e Pequenas Empresas da instituição, Adilson Anísio, as parcerias com fundos garantidores estão no centro da política da entidade. Fampe, SGC, FGO e FGI, por exemplo, estão entre os parceiros. “No caso das Sociedades de Garantia de Crédito, já operamos com a Garantiserra, com os outros três modelos do Paraná e estamos em fase de finalização com a SGC fluminense, Garantinorte. Estamos aprendendo a lidar com a novidade”, disse.
Ele explicou que o banco, ao conceder crédito, se sente sócio do empreendimento pelo menos durante o prazo do financiamento. Ele disse, ainda, que os fundos são vantajosos também para o tomador de recursos. “Para o agente financeiro é bom porque alavanca crédito, reduz a exigência de capital regulatório e estimula a expansão da carteira de crédito. Para o governo e a sociedade também traz reflexos positivos, como o fortalecimento da economia, a expansão do crédito, e o aumento de emprego e geração de renda”, completou.
Sustentabilidade
Os desafios para o desenvolvimento e sustentabilidade das SGC foi o mote do terceiro painel do evento. Na oportunidade, Ricardo Cavinato, diretor-executivo da Garantiserra, sociedade de garantia pioneira no país, apresentou dados de uma pesquisa do Sebrae de 2007, mas que serviriam, segundo ele, para indicar até hoje as condições pelas quais passam as micro e pequenas empresas na hora de garantir crédito. “As dificuldades em crédito e fomento são a realidade de 60% das empresas, enquanto 21% delas tinham problemas de acesso a mercados”, disse Cavinato.
Os números revelam ainda que 71% das empresas que fecharam, tiveram falhas gerenciais. O dirigente da Garantiserra fez ainda um histórico da SGC desde 2001, quando visitaram um modelo garantidor de crédito na Itália, até os desafios atuais. A Garantiserra tem 23 entidades parceiras e até junho deste ano emitiu R$ 13,9 milhões de garantias.
Entre os pontos fortes desse modelo de garantia de crédito, Cavinato apontou a existência de um comitê técnico qualificado, baixa inadimplência, redução nos custos das operações de crédito e assessoria com atendimento personalizado. Já os pontos que precisam melhorar passam pelo desconhecimento do sistema das SGC pelo público alvo, a insuficiência de agentes financeiros conveniados e a concorrência de outros fundos garantidores, como FGO, FGI e o Fampe.
Em se tratando de sustentabilidade e desafios, vários foram os pontos identificados pelo diretor-executivo da Garantiserra para crescer mais ainda na projeção regional. “Acredito que os desafios são gerais para todos, como aumento do fundo de risco, baixa inadimplência, criação de um marco regulatório e de fundo de segundo piso”, finalizou.
A busca da autossustentação com ampliação do leque de atuação e variedade do portfólio de produtos é a aposta da Garantioeste para prosperar. Augusto Sperotto, presidente da entidade, destaca as tarefas que devem ser cumpridas pelas lideranças empresariais envolvidas com o projeto e parceiros, como a edição de um manual de política de crédito único, divulgação de atos constitutivos e normas no portal das sociedades de garantia de crédito que será lançado em breve, e mais projetos de inovação com foco em ideias ambientalmente corretas e socialmente justas.
O dirigente cita, ainda, a concessão de taxas, tarifas e prazos menores a as cidades com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado baixo. “Temos nossos compromissos, mas também cabe ao governo o reconhecimento e maior envolvimento, seja com aporte nos fundos de riscos ou na normatização das SGC no sistema financeiro. Eles têm de acreditar na ideia”, reforçou.
A dificuldade por não possuir ainda um agente financeiro para dar início às operações foi relatada pelo vice-presidente da Garantinorte (RJ), Marcelo Reid. “Não temos na região um sistema de cooperativa de crédito. Então, fica o desafio de criar um sistema para que nossas ações sejam respaldadas e levadas adiante”, lamentou.
Apesar disso, a garantidora de crédito tem adesão total das lideranças empresariais e das prefeituras municipais de Campos e Macaé, onde estão fixadas a sede e a subsede da entidade. Elas aportaram recursos no fundo de risco, assim como o Sebrae Nacional. “Para as novas entidades que estão para ser lançadas, afirmo que não é fácil, mas também não é impossível. Acreditamos no sistema”, completou.
Programação – Na quinta-feira (9/8), último dia do evento, os participantes conferirão as palestras internacionais do secretário da Regar, Pablo Pombo, sobre o panorama dos sistemas de garantia de crédito nos países ibero-americanos; do diretor do departamento de Produtos de Crédito do banco Santander Totta, Luis Miguel Santos; do secretário técnico da Associação Latinoamericana de Instituições de Garantia (Aliga), Miguel Gaya e do seu presidente Sérgio Lamas.