Converter livros para o ePub (ferramenta que padroniza o acesso aos e-books nos diferentes dispositivos disponíveis) foi um dos desafios de editoras brasileiras quando decidiram entrar nesse mercado. Na ocasião, para fazê-lo, elas tiveram que recorrer a empresas estrangeiras, localizadas na Índia e nas Filipinas, por que a tradução tecnológica requeria habilidades específicas que ainda não eram encontradas por aqui.
Hoje, no Brasil, já existem empresas que atuam transformando livros impressos em livros digitais. A Simplíssimo, sediada em Porto Alegre, e a Kolekto, sediada em São Paulo, são exemplos. Mas esse setor ainda tem muitas oportunidades de negócios.
Para transformar impressos em e-books, são usados softwares de conversão, que automatizam o processo. Uma etapa seguinte, mais complexa, requer o trabalho de um programador de sistemas que altera o código principal do programa de acordo com as características do livro. Se a obra é repleta de gráficos ou ilustrações, por exemplo, mais ajustes ele terá de fazer.
Um livro digital traz à tona uma série de possibilidades de interação. Animações e recursos de áudio e vídeo são apenas algumas delas. Como será crescente o interesse dos leitores pelos recursos interativos e a oferta de livros digitais no País, a aplicação desse tipo de tecnologia tende a ser cada vez mais demandada.
É natural de se esperar que o setor ainda experimente muitos avanços tecnológicos pela frente. Mas hoje a expectativa, de acordo com especialistas, é que o formato digital (ePub3) criado mais recentemente pela IDPF – organização internacional de publicações digitais –, ajude no atendimento de parte da demanda.
Os dados mais recentes do mercado
A pesquisa anual da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), encomendada pelo SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) e CBL, traz dados sobre a evolução do mercado no período 2011-2012. No Brasil, as 197 editoras pesquisadas pela FIPE faturaram R$ 3,85 milhões em vendas de e-books e aplicativos de conteúdo em 2012.
Carlo Carrenho, no blog Tipos Digitais, analisou a amostra: a partir de uma inferência, o número de exemplares vendidos significaria uma participação digital de 0,23% em 2012 e em uma aposta de que em 2013 serão mais de 3 milhões de e-books vendidos – o que representa quase 10 vezes mais que as vendas do ano passado.
Em comparação a mercados mais maduros, como os EUA, Europa e Japão, o livro digital ainda não se tornou num grande produto no Brasil, mas continua gerando um ambiente de boas expectativas para os próximos anos.
Como esse é um mercado muito novo, ainda existem muitas discussões sobre aspectos tecnológicos a serem travadas, além de aspectos operacionais do mercado a serem sedimentados. Hoje, grande parte do trabalho de conversão de livros em e-books tem sido terceirizada pelas editoras, mas algumas companhias também têm mobilizado equipes internas para cuidar da tarefa. Mesmo que esse fato, no médio prazo, representasse uma limitação para a expansão empresarial brasileira no mercado interno, exportar serviços de valor agregado para o mundo sempre será uma alternativa de estratégia mercadológica a ser considerada nos segmentos digitais.
O cenário do mercado na visão do BNDES
De acordo com a publicação “Desafios para o setor editorial brasileiro de livros na era digital”, o cenário para o mercado brasileiro delineia as seguintes tendências:
1. As editoras vão produzir em um novo contexto, de crescente digitalização e prestação de serviços, em particular os de apoio e complementação aos conteúdos educacionais.
2. A perspectiva de demandas mais estáveis ou declinantes e pressões por redução de preços nas economias do hemisfério norte motiva as editoras dos países desenvolvidos a buscar oportunidades de negócios em mercados com expectativas de crescimento de longo prazo, como o brasileiro. Assim, é provável a ocorrência de investimentos estrangeiros para a compra de editoras brasileiras, ou associações, em particular nos segmentos voltados à educação.
3. O crescimento do mercado de livros digitais se dará em um ritmo ainda indefinido e dependerá da evolução das vendas de e-readers no Brasil. O interesse anunciado no mercado brasileiro deverá mobilizar os produtores desses instrumentos de leitura a intensificar sua comercialização aqui.
4. A gestão da transição das editoras para o novo ambiente digital é estratégica para seus resultados de médio e longo prazos.
5. Será preciso desenvolver competências internamente nas editoras, para a produção de livros digitais, e externamente, com seus fornecedores.
6. Não há experiência pregressa; é um momento de aprendizado para todos em todos os mercados editoriais.
Leia também Pensando em entrar no mercado de livros digitais?
Acompanhe a página eletrônica do Sebrae sobre Economia Digital.