Na última semana o Sistema Sebrae iniciou seu processo de revisão do direcionamento estratégico e está trabalhando cenários para 2022. A primeira contribuição vem de Fernando Sampaio, da LCA Consultores, partindo de análise do cenário econômico internacional, no qual a aversão ao risco pelos bancos começa a recuar, o que sinaliza menor temor de contágio nas economias, em especial nas europeias.
O mundo desacelerará nesta década mas continuará crescendo. Algumas economias crescerão mais, mas todas em ritmo menos acelerado do que na última década, em especial a locomotiva China. Estas sinalizações foram, inclusive, reforçadas na reunião dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia e China), realizada no final de março na Índia.
Economia sólida
E o Brasil? Mesmo com perspectiva de retomada modesta este ano, com certeza o País deverá manter um bom ritmo de crescimento até 2022. Pode-se afirmar que mesmo na pior das hipóteses, se nada for feito, o Brasil cresce. E por que se pode falar isto? Por ter sido feito o dever de casa dos fundamentos sólidos macroeconômicos.
Vive-se um período de expectativa de crescimento sustentável, por conta da solidez das contas públicas, atração de capitais internacionais, crescimento dos investimentos, redução da taxa de desemprego e expansão do consumo das famílias. O Brasil conseguiu reduzir sua vulnerabilidade externa, fruto da forte acumulação de dólares que se iniciou a partir de 2004.
Hoje, o País está em condições de aplicar com êxito políticas anticíclicas, como fez com sucesso na crise de 2008. Está em condições de, numa eventual deterioração adicional do cenário externo, voltar a estimular a demanda interna e com isto mitigar os efeitos da crise. Tem-se um sistema financeiro sólido que combina alta lucratividade e baixa alavancagem.
O desafio é ampliar a taxa de investimento da economia, sem desconsiderar os avanços recentes e o previsto para esta década, mas que se encontra aquém do praticado na Ásia e na média da América Latina.
Setores em franco crescimento
Mapeamento realizado pelo BNDES indica que o investimento deverá puxar o crescimento do PIB, em especial nos setores de petróleo e gás, extração mineral, siderurgia, química, veículos, eletroeletrônica, papel e celulose e têxtil, além das locomotivas do agronegócio e bioenergia. Somados aos investimentos de infraestrutura, por meio do PAC e do Minha Casa Minha Vida, terão impacto nos setores de energia, telecomunicações, saneamento, ferrovias, rodovias, portos e aeroportos, bem como na habitação, com impacto direto em construção civil e bens de capital.
A estes investimentos se somam os relacionados aos da Copa 2014 e Olimpíadas 2016. Só na Copa do mundo estamos falando de investimentos de infraestrutura em torno de R$ 40 bilhões. Só nos aeroportos de Brasília, Viracopos e Guarulhos (recém privatizados por meio de confesso) serão investidos cerca de R$ 3 bilhões. Há ainda o presente do pré-sal, que vai colocar o Brasil como quinta maior reserva mundial de petróleo
Este quadro permite afirmar que há no País um quadro potencial de crescimento mais regular e robusto que no passado recente e que abre espaço para um consumo expandido de forma mais constante e sustentável. O diferencial deste momento de crescimento criará as condições para que o juro real praticado no Brasil continue sua trajetória em busca de patamares semelhantes aos observados em outros países emergentes. Este aspecto facilita a expansão do mercado de crédito, em especial os voltados para as empresas de pequeno porte e o imobiliário.
Mudanças na população brasileira
Um ponto relevante para a sustentabilidade do crescimento vem da demografia, por meio da qual o País terá um diferencial e benefício decorrente do aumento da população em idade ativa, na faixa de 15 a 64 anos.
Melhor distribuição de renda e maior mobilidade social apontam para mudanças no perfil do consumidor, que reduzirá seus gastos com bens e serviços essenciais e passará a ser mais sofisticado no seu consumo, gastando com serviços financeiros, como seguros; saúde; educação; e entretenimento.
Ainda sobre a demografia, o Brasil terá cada vez mais chefes de família com maior idade e casais sem filhos.
O desafio da escolaridade continua, mas vem melhorando o grau de instrução médio do consumidor brasileiro.
Desafios para alcançar um país forte em 2022
Apesar deste quadro extremamente favorável alguns desafios se apresentam, entre eles se destacam:
– Aprimorar a política fiscal (a presidente da República, Dilma Roussef, tem sinalizado positivamente neste caminho);
– Avançar mais e de forma mais acelerada nas melhorias de infraestrutura;
– Melhorar o nível médio da qualificação da forca de trabalho;
– Fortalecer a autonomia das agências reguladoras e a profissionalização da gestão;
– Fortalecer a capacidade de gerar e difundir inovações no setor produtivo.
Esta é uma agenda positiva para a competitividade do País e para as pequenas empresas. Oportunidades se apresentam, mas para aproveitá-las as empresas de pequeno porte devem estar atentas e preparadas para as chances e demandas. Estar preparada significa estar cada vez mais competitivas e sustentáveis dentro de padrões internacionais, mesmo para atuação no mercado interno.
Esta é a agenda que o Sistema Sebrae precisa fortalecer: a partir do olhar do mercado, apoiar à competitividade e sustentabilidade dos pequenos negócios para que aproveitem as oportunidades de negócios que terão pela frente.