O Brasil tem aproximadamente 10 milhões de profissionais liberais, segundo a confederação nacional da categoria. Com as alterações no Simples Nacional – que permitirão a inclusão de 140 atividades econômicas nesse regime de tributação, como medicina, advocacia, odontologia, corretagem, entre outros –, a tendência é que cresça o número de profissionais com Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Ter o próprio negócio é o sonho de muitos graduados, porém, dominar apenas a técnica nem sempre é suficiente para o sucesso da empreitada. É necessário saber administrar os negócios e ter noções de gestão para atender os clientes, inovar na prestação de serviço, posicionar-se no mercado, controlar gastos e continuar crescendo. “No próprio negócio, o profissional liberal tem de lidar com obrigações como: saber contratar e dominar a legislação, processos e estratégicas de marketing; desenvolver layout atrativo para o seu estabelecimento ou site; e saber olhar para os concorrentes e extrair o que eles têm de melhor – aplicando um diferencial”, afirma o consultor da Unidade de Desenvolvimento e Inovação do Sebrae-SP, Renato Fonseca de Andrade.
Tudo isso foi enfrentado pela dentista Patrícia Fernanda Di Todaro, em 1990, quando, recém-formada, abriu o próprio consultório em Araraquara, interior de São Paulo. Atenta às oportunidades, ela partiu para uma segunda unidade apenas seis meses depois, em um bairro da periferia que não era atendido por nenhum profissional. “Perto do estabelecimento havia uma fábrica e os operários queriam atendimento antes ou depois do expediente e no horário do almoço. Comecei a me moldar, pois sabia que tinha de atender à demanda do cliente. Estava disponível das 6h às 23h e contratei dentistas para me ajudar”, afirma. Em paralelo, Patrícia formou uma rede de contatos que lhe garantia indicação de novos clientes, o que permitiu que o consultório crescesse, mas o lucro não veio na mesma proporção. A situação mostrou à Patrícia a necessidade de investir em gestão para tocar o negócio. “Conheci o Sebrae-SP e fiz todos os cursos e palestras disponíveis até chegar ao Empretec, em 2012, que auxiliou muito a minha evolução profissional”, aponta. Graças aos novos horizontes abertos pelos treinamentos, Patrícia investiu na informatização dos consultórios, iniciativa pioneira na cidade. Ainda assim, eram muitos horários vagos e lucros escassos. Foi aí que os consultores do Escritório Regional do Sebrae-SP em Araraquara indicaram à Patrícia as lições do programa Dentista Empreendedor, com a cartilha “Como Abrir e Fazer a Gestão de uma Clínica Odontológica”, específica para a área. Com o material, ela aprendeu a estabelecer objetivos e metas, definir preços, fazer fluxo de caixa e pensar em todos os processos para construir um plano de negócios. “Ao fim do processo, ela entendeu que se oferecesse serviços abaixo do preço de custo, as dívidas seriam maiores”, afirma o consultor do Escritório Regional do Sebrae-SP em Araraquara, Evandro Di Todaro Júnior. Segundo o consultor, após as ações propostas pelo Sebrae-SP, o consultório conseguiu preencher os horários ociosos; criou planilhas para inserir dados que auxiliam na precificação de produtos e serviços, o que aumentou o faturamento em 126%; alterou o layout dos consultórios, acrescentando espaço de circulação para os clientes; e reduziu as despesas variáveis em 47%. Hoje, Patrícia conta com três consultórios e planeja abrir a primeira clínica de odontologia de Araraquara a ter certificação ISO 9000 (que atesta a gestão da qualidade). “Com Patrícia, quebramos o paradigma de que o gerenciamento de processos – fluxo de produção, saturação de mão de obra e produtividade – é um conceito válido apenas para indústrias. Ele vale para prestadores de serviços também”, afirma Júnior.
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