Os Arranjos Produtivos Locais (APL) – tradução brasileira para o conceito de Clusters –constituem-se em concentrações geográficas de empresas de setores afins, interconectadas, provedores de serviços especializados (Bancos, Agência de Desenvolvimento) e instituições de apoio que competem mas que também cooperam entre si. Entre as vantagens de pertencer a um APL destacam-se:
– Organização da produção;
– Acúmulo de conhecimento contextual sobre o setor;
– Formação de recursos humanos especializados;
– Acesso facilitado a serviços de crédito e financiamento;
– Melhoria de produtividade e competitividade;
– Acesso a mercados e ampliação de negócios;
– Compartilhamento de recursos e de capacidade produtiva.
Segundo dados do Grupo de Trabalho de Arranjos Produtivos Locais (GTPAPL) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2005 foram identificados no Brasil 957 APLs. Atualmente, estima-se que este número esteja próximo a 1.600 APLs.
O SEBRAE atua em todo o país com projetos de estímulo ao desenvolvimento de APLs, promovendo ações que permitem a melhoria da competitividade e gestão das micro e pequenas empresas inseridas nesses territórios, facilitem o acesso a crédito e serviços financeiros e a capacitação empreendedora e o estímulo à inovação.
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Como surge um Arranjo Produtivo Local?
Existe uma série de fatores condicionantes para o surgimento de um APL. Alguns desses fatores são intrínsecos ao território em função de sua história, associada a processos naturais de desindustrialização e tentativas de retomada do desenvolvimento econômico. Outros fatores necessitam ser introduzidos no território por meio da articulação de atores e parcerias institucionais comprometidas com o desenvolvimento sócio econômico da região.
A literatura sobre o tema, baseada no modelo dos distritos industriais italianos, apresenta três macro etapas necessárias para o surgimento e constituição de um APL. A primeira delas é a identificação das características do território que podem ser aprimoradas ou potencializadas.
A segunda é uma análise sobre o capital territorial:
– Capital ambiental: recursos provindos do meio ambiente, resultantes do uso sustentável pelos seres humanos – o que pressupõe a interação entre o legado que nossa espécie recebeu da natureza e aquele que devemos oferecer à próxima geração e às demais sucessivamente;
– Capital produtivo: recursos intangíveis e tangíveis capazes de gerar riquezas e possibilitar a criação de oportunidades de trabalho e renda para as pessoas de uma comunidade;
– Capital humano: conjunto de valores, atitudes, conhecimentos e habilidades de uma comunidade, que permite às pessoas desenvolver seu potencial, aproveitar as oportunidades que lhes são colocadas e se inserir produtivamente no mundo do trabalho;
– Capital social: capacidade da sociedade de formular objetivos comuns de longo prazo – visão de futuro, de gerar coesão social em torno desses objetivos e de manter uma constância de propósito ao longo do tempo.
A terceira etapa consiste em definir programas e projetos que aperfeiçoam as estruturas locais, tendo como referência as informações advindas dos passos anteriores e com foco no desenvolvimento dos atributos a serem potencializados, quais sejam:
1. Criação e melhoramento da infra-estrutura;
2. Comunicação externa;
3. Valorização da sinergia e das inter-relações empresariais e institucionais;
4. Formulação de uma visão de desenvolvimento local.
Os programas e projetos identificados como prioritários podem ser agrupados em componentes que tenham por objetivo o fortalecimento da dinâmica do APL; a melhoria da informação e acesso ao mercado; e a organização da produção, o acesso a serviços financeiros e a internacionalização das pequenas empresas. Os resultados deverão ser medidos por meio da definição de indicadores de eficiência, facilitando o acompanhamento do processo de dinamização do arranjo produtivo.
Outro fator preponderante para a iniciativa de constituição de um APL é a definição do modelo de governança, usualmente um Conselho ou Comitê Gestor composto por representantes dos principais atores que compõem o APL (empresas, instituições, governo, bancos, trabalhadores, associações, entre outros). Entre as atribuições do Conselho ou Comitê Gestor, está a definição de um planejamento estratégico adequado ao APL, às especificações e exigências de mercado, convergindo os interesses e funcionando como um guia para as iniciativas de fomento para o setor e o território.
Como participar de um APL?
A inserção de uma micro e pequena empresa em um APL é um processo que ocorre naturalmente à medida que cresce o seu nível de participação e associação em grupos representativos dos setores envolvidos. Antes de ingressar, o empreendedor deve compreender o processo de constituição do APL, os objetivos, resultados que se almejam e, principalmente, o benefício de sua participação para o aprimoramento e desenvolvimento de sua empresa, do seu setor e de sua região.
O futuro dos APLs no Brasil
O Brasil sediou o VI Congresso Latino Americano de Clusters, realizado em Ouro Preto (MG) nos dias 16 a 20 de Maio de 2011. Este evento foi de extrema importância para a troca de experiências entre os países da América Latina sobre seus estágios de implantação e gerenciamento de clusters, bem como sobre a discussão do futuro dos APLs, em razão do atual cenário econômico mundial.
Uma das constatações é a necessidade de se criar uma 2ª geração desses empreendimentos, no quais o componente de inovação seja uma vertente presente e necessária na política de desenvolvimento dos Clusters ou APLs. As políticas devem ter o foco em competitividade e introdução de inovações, sob pena de alguns APLs sucumbirem pela incapacidade de geração de valor e sustentabilidade dos empreendimentos que o compõem.
Uma das alternativas para a incorporação de inovações é a busca constante de interface e interação com médias e grandes empresas, centros e pesquisa e universidades. Exemplos de outros países mostram que quanto maior os elos de relacionamentos entre esses atores, maiores são as possibilidades de incorporação de inovações tecnológicas pelas micro e pequenas empresas.
*Weniston Ricardo de Andrade Abreu é Analista Técnico da Unidade de Acesso a Mercados e Serviços Financeiros do Sebrae Nacional.