As raízes do Brasil como nação soberana e independente estão entrelaçadas com as raízes dos cafezais e da agricultura, afinal de contas o produto foi a principal fonte de renda e exportação por todo o século XIX e até o começo do século XX, sendo pilar de sustentação do Brasil Império e da República Velha.
Ainda com base nesta relação tão duradoura, nos dias atuais o principal produto brasileiro já não é o café, mas mesmo tendo se passado mais de um século, o Brasil ainda é o maior produtor da commodity no mundo todo, sendo que cerca de 30 % do café consumido no mundo é plantado, cultivado e depois vendido nas terras tupiniquins.
O café que é vendido e consumido é plantado por todas as regiões do país, indo do sul ao norte, centro oeste ao nordeste, porém, mesmo ainda havendo a produção nos estados mais frios do sul, a cada ano que se passa ela se torna mais e mais defasada, de modo que as estimativas mais recentes apontam que nos ritmos atuais não haverá mais produção nesta região do país.
Paraná de maior produtor ao zero
O café chegou ao sul do país por volta do século XX, quando já era um dos principais produtos do Brasil, seu crescimento em relação ao resto do país foi muito lento, graças a todo o contexto mundial que não era nem um pouco favorável, com a Primeira Guerra Mundial, depois o crash da bolsa de valores de Nova York em 1929, que fez com que os preços despencassem e milhões de sacas de café tiveram que ser descartadas.
Por mais que a crise tenha durado apenas até meados da década de 30, ainda assim, o baque na produção foi muito forte e só conseguiu se recuperar de forma considerável após a Segunda Guerra Mundial, e assim ficou até a década de 50 e 60, que realmente representaram um boom na cafeicultura.
Em apenas 10 anos, a área destinada à produção de café foi de 300 mil hectares para 1,6 milhão, ou seja, a produção cresceu quase 100 % ao ano, tornando o Paraná o maior produtor de café do país que mais produz café do mundo.
No ano de 1962 o estado produziu cerca de 30 % do café consumido no mundo.
As terras extremamente férteis do estado foi sem dúvidas um dos maiores ocasionadores desta explosão na produção, e conseguia compensar até mesmo as geadas rotineiras que chegavam ao estado.
Toda esta situação ia de vento em polpa e parecia que nunca iria ser diferente, até que pouco menos de 10 anos após o seu apogeu, a produção de café do estado sofreu uma grande baixa vindo de uma variável já citada.
Veja bem, o café é uma planta originária do continente africano, mais precisamente, na região de Kaffa, sudoeste da Etiópia, sendo desenvolvido para climas mais quentes, de campos de gramas que beiram a desertificação.
Com isso em mente, é possível imaginar o motivo desta planta ter sido quase varrida do Paraná em pouquíssimo tempo.
Por mais que a planta tenha sido cultivada nas terras do sul, ainda permanecia muito sensível às temperaturas mais baixas típicas da região, com muita frequência as plantações sofriam severas baixas por causa das geadas, até que então, no ano de 1975, menos de 15 anos após o estado ter produzido cerca de 30 % do café do mundo, uma forte geada castigou as plantações.
Temperaturas extremas eram muito comuns, e com o tempo a produção logo se restabelece, mas em um intervalo muito curto de tempo geadas incessantes assolaram a região, de modo que não foi possível a produção se recuperar sozinha.
Relatos das pessoas que presenciaram a sequência de baixas, mostra que realmente foi um grande desastre em que inteiras regiões de cafés foram varridas.
A produção não teve como se restabelecer sem ajuda externa, principalmente, pois passou a enfrentar concorrência interna de outras culturas, como soja e trigo, que nos dias atuais dominam a produção da commodity do estado.
A recuperação
Mesmo com a queda o país ainda continua sendo o maior consumidor de café e o maior exportador, por este motivo o café está tão presente no dia a dia, seja em cafeterias, restaurantes é muito comum ver aluguel de máquinas de café, pois o item não sai do dia a dia do povo.
Mesmo com este enorme baque, nos dias atuais, ainda é possível consumir o café que é produzido no estado, principalmente, pois, nessas últimas décadas a produção passou por fortes reformulações, onde os pés antigos foram erradicados e substituídos por variedades mais resistentes ao frio e com uma maior taxa de produção.
Todo o cenário não foi nem um pouco gentil com a situação do estado, e as geadas foram somente o estopim.
A concorrência interna no país não foi nem um pouco gentil, com estados como Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Rondônia já vinham com uma produção crescente querendo tomar uma parcela do mercado paranaense.